ARTISTAS E LUTA DE CLASSES – Wilson Coêlho

Sem esmiuçar muito, de imediato, e mesmo que possa soar como uma visão reducionista, podemos dizer que há três tipos de artistas, a saber, o de direita, o de esquerda e o alienado. Parece complicado estabelecer essas fronteiras, mas não é se tivermos um mínimo de dedicação para refletir essa realidade.

Podemos dizer dos que optaram por serem de direita ou de esquerda quando são conscientes de sua opção. Os de direita porque têm consciência de que acreditam na hegemonia do pensamento burguês e que, mesmo sendo pobres ou ricos, fazem da arte uma mera mercadoria na feira do capitalismo, optam por temas de suas obras, desde a literatura, o teatro, o cinema, a dança, a música, as artes plásticas e etc, de acordo com a demanda do mercado. Os de esquerda, por sua vez, tendo consciência de classes e sabendo que pertencem à trabalhadora/oprimida, optam por projeto que coloquem em questão o sistema, elaboram e se organizam para que seus públicos sejam provocados não só para entenderem o sistema capitalista, mas para desenvolverem um senso crítico por uma necessidade de transformação.

Quanto aos alienados, esses realmente são o grande imbróglio no movimento cultural, pois são a maioria esmagadora. Primeiro, eles não se comprometem em nada na luta de classes e se consideram acima do bem e do mal. Segundo, eles até, por não entenderem do tema apregoam a fictícia existência de uma classe artística, classe teatral, etc, como se fossem um elemento soberano na cadeia alimentar do capitalismo.

Obviamente, pela ignorância, se acreditam como classe porque não sabem que só existem duas, a do opressor e do oprimido, do dominante e do dominado. Essa ignorância é pernóstica porque faz com que esses artistas, que se supõem “independentes”, não consigam perceber que sua maioria referenda o pensamento burguês. Esses artistas alienados são, na verdade, os que mais referendam e alimentam a força dos tiranos sobre os oprimidos. Eles não entendem que a omissão diante da luta de classes sempre fortalece os dominantes. Eles são tão estúpidos que não conseguem separar a arte da cultura, considerando que se realmente fossem a favor da arte teriam que sempre colocar em xeque a cultura.

A cultura é aquilo que é cultuado, cultivado, a forma que o ser humano se insere no mundo dando significado à existência. Mas a arte, mesmo que seja oriunda de uma cultura, não tem compromisso com sua manutenção, aliás, na história do mundo da sociedade dividida em classes, a verdadeira arte sempre se instaura como contracultura. Público e notório, as sociedades capitalistas se apropriam dessa contracultura e a transformam num objeto avaliado e integrado nos cardápios do mercado, ou seja, a democracia burguesa se apropria dessas iniciativas e a transforma em produtos, ao mesmo tempo em que as inserem na pauta da “liberdade de expressão”, embora instaurem e definem critérios onde e quando elas possam se manifestar, inclusive, a mídia burguesa investe em muitas dessas iniciativas.

A burguesia entende que quanto mais apoia essas iniciativas é mais uma possibilidade de fazer com que as minorias se sintam contempladas e se fechem em guetos e pulverizem a luta de classes, ou seja, se esqueçam de que a vida numa sociedade de classe é sempre uma luta entre opressor x oprimido e que, a omissão é uma postura irresponsável e que a neutralizada é sempre um ponto positivo para os que dominam.

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