este é mais um poema acerca das 2 da manhã e de como
eu ainda estou
à máquina a ouvir o rádio e a fumar um bom
charuto.
diabos, não sei, às vezes sinto-me como o Van Gogh ou
o Faulkner ou,
vá, o Stravinsky, enquanto vou bebendo vinho e escrevo
e fumo e não há magia mais terna que esta.
alguns críticos dizem que escrevo a mesma coisa vezes
sem conta.
bem, às vezes escrevo e às vezes não escrevo, mas
quando escrevo
é porque sinto que é absolutamente certo, é como fazer
amor e
se soubesses o bem que te fez sentir perdoar-me-ias
porque ambos sabemos quão inconstante pode ser
a felicidade.
então, faço-me de parvo e digo outra vez que
são 2 da manhã
e que sou
Cézanne
Chopin
Céline
Chinaski
a abarcar tudo:
o rasto do fumo do charuto
outro copo de vinho
as raparigas bonitas
os criminosos e os assassinos
os loucos solitários
os operários fabris,
esta máquina aqui,
o rádio a tocar,
repito tudo de novo
e repeti-lo-ei para sempre
até que a magia que me acontece
te aconteça a ti.
Charles Bukowski, OS CÃES LADRAM FACAS,