Solidaridad Los Cinco

Entrevista a Gerardo Hernández, preso político cubano nos EUA – Solidaridad Los Cinco – 21/04/2009 (Trad. Wilson Coêlho)

Cubainformación.- Esta conversa aconteceu no dia 1º de abril de 2009. Nossa equipe de filmagem recebeu a aprovação do Departamento de Justiça para falar com “o prisioneiro” em presença de um funcionário da prisão. Antes de seu arresto em 1998, Gerardo dirigiu as operações dos outros agentes da Segurança do Estado cubana que se infiltraram em grupos violentos na área de Miami com o propósito de impedir que realizassem ataques terroristas contra instalações turísticas em Cuba. Tomamos cuidadosamente notas completas.

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Saul Landau: Qual era sua missão e por que?

Gerardo Hernández: Nos EUA, em geral e especificamente na Flórida, muitos grupos contemplaram e realizaram atos de terrorismo em Cuba. Estávamos copiando informação acerca de Alfa 66, Comandos F4, a Fundación Nacional Cubano-Americana e Hermanos al Rescate. Passaram-se muitos anos e espero que nada se me tenha escapado, mas creio que esses eram os grupos principais nos quais trabalhávamos (infiltrados).

Landau: O que souberam por meio de sua infiltração?

Hernández: O primeiro que soube foi da impunidade com que operavam esses grupos, violando as leis dos EUA: a Lei de Neutralidade (da década de 1790) que supostamente significa que nenhuma organização pode usar o território norte-americano para cometer terrorismo contra outro país.

No caso de Alfa 66, os operativos abordavam uma lancha rápida e disparavam contra objetivos na costa de Cuba. Quando regressavam a Miami, celebravam uma conferência de imprensa e diziam abertamente o que haviam feito.

E quando alguém os perguntava, “Ouçam, isso não é uma violação das leis de neutralidade?”, eles respondiam: “Em realidade não, porque primeiro fomos a uma das pequenas ilhas em algum lugar do Caribe e depois fomos a Cuba. Quer dizer que, tecnicamente, não partimos dos EUA”. O faziam abertamente e nenhuma agência norte-americana lhes exigiu responsabilidade.

Landau: Em que anos?

Hernández: Isto vinha acontecendo desde 1959. Pessoalmente comecei a dedicar-me a isto desde a década de 1990. Como tenho estado aqui na prisão de Victorville (Califórnia) desde uns 3 anos, creio que em 2005 arrestaram a um cubano neste país com um arsenal, todo tipo de armas, todo tipo de armas em sua casa. E o primeiro que disse foi, “Bom, eu sou membro de Alfa 66 e estou usando essas armas na luta pela liberdade cubana”. Essa foi sua defesa.

Landau: Os Cinco de Cuba eram todos voluntários? Como alguém se prepara para infiltrar em um grupo inimigo num país inimigo? E depois agir como se vocês fossem inimigos de seu próprio país e amigos deles?

Hernández: Sim, todos éramos voluntários. Em meu caso, eu não sou um militar de carreira. Estudei para ser diplomata. Levei 6 anos para obter meu título em Relações Políticas Internacionais. Depois fui a Angola, como parte de uma missão internacional voluntária. E enquanto estava em Angola parece que chamei a atenção dos serviços cubanos de inteligência, e quando regressei me propuseram esta missão. Disseram, “Sabemos que estudastes para diplomata, mas sabes que nosso país tem uma situação com esses grupos terroristas que vêm da Flórida para cometer todo tipo de crimes e necessitamos que alguém vá e cumpra estas tarefas”.

Posso ter dito “Não, estudei diplomacia. Quero ser diplomata”, mas nós cubanos, os que crescemos com a Revolução, sabemos que durante os últimos 50 anos nosso país tem estado em um entorno quase de guerra. Em Cuba, o que não conhece pessoalmente uma vítima do terrorismo ao menos sabe acerca do avião que explodiu em pleno voo sobre Barbados, no que morreram 73 pessoas (outubro de 1976). Quem não sabe da bomba posta por um salvadorenho que disse ter sido recrutado por Luis Posada, (em 1997) e que matou Fabio di Celmo (um turista italiano e hóspede do Hotel Copacabana em Havana) para só mencionar alguns atos? Num jardim da infância os contrarrevolucionários tocaram fogo num tanque de gás. Estas ações são parte da consciência cubana. Assim que disse aos oficiais de inteligência: “Sim, estou disposto a cumprir essa missão”.

Landau: Como você conseguiu infiltrar-se nesses grupos? Como convenceu a gente como José Basulto (chefe de Hermanos al Rescate), por exemplo?

Hernández: Para os cubanos, neste país tudo está relacionado. Os cubanos nos Estados Unidos têm enormes privilégios que não têm os cidadãos de nenhum outro país. Os cubanos chegam por qualquer rota, incluindo com passaporte falso, e a único que têm que dizer é: “Venho em busca de liberdade”, e imediatamente os EUA lhes dá todos os documentos necessários. Assim que no caso de Basulto, por exemplo, um de nossos companheiros que se infiltrou em Hermanos al Rescate, originalmente “roubou” um avião em Cuba. René (Gonzáles, outro dos Cinco) pilotou o avião até aqui e, como é de costume, foi recebido como um herói. Recebeu muita atenção e depois se uniu aos Hermanos. Sua tarefa era copiar informação acerca dessa organização.

Assim que se me pergunta como o fizemos, digo que usamos como base para a infiltração os mesmos privilégios que todos os cubanos recebem quando chegam a este país, inclusive, aos que tenham traído a outros e tenham sequestrado aviões, ou lhe tem posto uma pistola na cabeça de algum piloto. Veja a gente como Leonel Matías, que matou a alguém num barco (em 1994, sequestrou um barco em Cuba e matou um oficial da Marinha). Ele chegou aqui nesse barco, com sua pistola, e inclusive descobriram o cadáver. Mas apesar de tudo isso não teve que enfrentar nenhum processo no sistema judiciário norte-americano. Essas pessoas automaticamente são anistiadas. E, assim, usando exatamente esse tipo de vantagem, pudemos penetrar essas organizações até certo nível.

Quando menciono a Hermanos al Rescate alguns podem pensar: “Essa é uma organização humanitária que resgatou aos balseiros”. Pelo contrário, enquanto suas atividades se limitaram a resgatar aos balseiros não tiveram problemas com as autoridades cubanas. O que a gente não sabe é que José Basulto, o chefe dessa organização, tem uma longa história. Ele foi treinado pela CIA e se infiltrou em Cuba na década de 1960. Em 1962, foi à Cuba em uma lancha rápida e percorreu a costa cubana, inclusive disparou contra um hotel. Até Basulto, com todo seu histórico conhecido, não teve problemas enquanto limitou suas ações a resgatar os balseiros. No entanto, em 1995, os Estados Unidos e Cuba firmaram acordos migratórios que especificavam que os botes interceptados em alto mar já não viriam aos Estados Unidos, senão que seriam regressados à Cuba. Nesse momento, a gente deixou de dar dinheiro a Basulto e sua organização porque disseram, “Por que vamos dar dinheiro à organização de Basulto se quando chamada a Guarda Costeira vão devolver esses balseiros à Cuba?”

Assim, quando Basulto viu que seu negócio estava em perigo, inventou esta invasão (em 1995) do espaço aéreo cubano como forma de que a gente continuasse dando dinheiro. Apresentamos esta evidência em nosso caso. Se a imprensa não queria prestar muita atenção a isto… bom, não querem tocar esse material. Não lhes diz respeito. Mas me refiro à grande imprensa. Os documentos estão aí, que provam que Basulto e Hermanos al Rescate estavam experimentando armas feitas à mão para introduzi-las em Cuba.

Quando Basulto prestou testemunho em nosso juízo (em 2001), nosso advogado lhe preguntou sobre o que pensava fazer com todas essas armas. Tudo isto se encontra nas atas, ainda que ninguém parece querer prestar-lhe atenção. A gente tende a falar acerca de Hermanos al Rescate como se fora uma organização humanitária, e omite a parte do terrorismo, como omite o fato de que o FBI também penetrou essa organização. O FBI tinha alguém dentro do grupo que lhe dava informação acerca das atividades dos Hermanos. Para que vai penetrar o FBI numa organização humanitária?

https://cubainformacion.tv/…/9579-entrevista-a-gerardo-hern…

Foto: Wilson Coêlho e Gerardo Hernández Nordelo

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